Redação – Tribuna de Santa Cruz
A monarquia é identificada na mente e no coração do povo por alguns signos: medalhas, condecorações, faixas, mantos, brasões, documentos rebuscados, papelaria específica, certo tipo de mobiliário, vestimenta, capas, ordens, posturas, calendários, composição familiar até a escolha de um imóvel para morar (mesmo que não seja um palacete, como é o caso dos Orleans e Bragança do ramo de Vassouras, que vivem em uma Casa comum ou apartamentos em bairros específicos do Rio de Janeiro e São Paulo). Porém, sem os signos (ou o conjunto deles) uma pessoa pode ser identificada como político, executivo, advogado ou qualquer coisa que o valha, mas não como nobre, príncipe ou rei.
Rei Charles III, sem coroação e todos aqueles signos e ritos, não seria rei, por mais que quisesse ou que alguns creiam que tudo seja desnecessário.
É algo obrigatório conforme as tradições de assunção e sagração de uma Casa. No exemplo da monarquia inglesa, todo o procedimento de velório da Rainha Elizabeth estava disposto e ensaiado, muito antes do evento ocorrer, pelo protocolo.
Deveras, há no meio do povo todo tipo de gente e uma infinidade de diferenças de pensamento entre republicanos e monarquistas.
Neste âmbito o que é “cafona” ou “excessivo” para um é absolutamente necessário e ritual para outro. Na questão de Casas e Principados em exílio há que se observar as tradições e costumes familiares que se quer trazer de volta, que se deseja guardar e há que se respeitar essas determinações. Não é da conta dos “de fora”.
Há Côrtes de reis da África que se assentam em cadeiras comuns, consideradas simples, com roupas consideradas estranhas para a estética eurocêntrica. São menos monarcas do que outros? Não! No caso, apenas estão usando os recursos que dispõem a fim de fazer algo que para aquele grupo faz sentido, da mesma maneira a nobreza em exílio.
Ademais, simplificações estéticas podem parecer um manifesto simbólico ou minimalista, porém não se mostra desejável para a maioria. Vide o sucesso e aceitação que a monarquia britânica continua ostentando sob Charles III apesar do fel dos “críticos”.
Um título de nobreza escrito num papel de pão, desprovido de algum identificador que guarde uma estética minimamente aceitável, será indiferente ou insignificante para a maioria acostumada a pensar que: “não é assim que um rei faz as coisas”. Assim como o uso de insígnias pesadas, agressivas ou até medonhas visando evitar o uso das cores vivas da heráldica e mostrar força. Neste caso não se trata de insignificância, mas de demonstração de uma personalidade perigosa, sem afeto natural e mordaz. Da mesma maneira: não é assim que um rei faz as coisas”, a menos que seja um rei reconhecidamente mau. Há brasões circulando que agradariam Calígula, certamente.
Por fim, a monarquia brasileira sempre foi vista como empobrecida e avessa aos protocolos nobiliários e dinásticos considerados “civilizados”. Os modos simples e a mentalidade econômica de Dom Pedro II frustravam os visitantes e de certa forma fizeram crescer o sentimento antimonárquico, cada vez mais fortalecido por críticas supostamente “bem-intencionadas”.
Na verdade, tais críticas não deixaram de ser uma espécie de “imperialismo” dos que aqui vieram, afinal por que um sujeito acha adequado determinar os rumos dos outros? Da Casa dos outros? Visando retirar a validação ou a apreciação pública por ataques direcionados aos outros, mas que acabam servindo de espelho e se amoldando perfeitamente a quem os promove?
Empobrecida ou não, cafona ou não, “over” ou não, a monarquia foi a solução para o Brasil e sua manutenção teria sido uma grande benção, apesar do sentimento antimonárquico que existia então nas elites e que cresce hoje no meio monárquico, sempre sob a bandeira rota de supostas “boas intenções”, de falsa humildade, mascarando o republicanismo ou até coisa pior.