A visão do Professor Guilherme Freire sobre a independência do Brasil de Portugal

Transcrição parte de “Por que não comemoro a Independência do Brasil – Live” realizada em 7 de setembro de 2022.

Olá a todos, tudo bem? Estamos começando mais uma live. E hoje, nesse bicentenário da independência, eu vou comentar um pouco do porquê eu não comemoro a independência, embora eu aprecie imensamente o fato das pessoas estarem andando na rua com bandeira do Brasil, o fato de elas demonstrarem o patriotismo. O patriotismo, sem dúvida, é uma coisa que eu aprecio e eu aprecio que hoje as pessoas queiram demonstrar esse patriotismo.

Então não é contra isso que eu vou falar. Mas o episódio mesmo da independência, eu não acho que ele deveria ser comemorado. E ao longo dessa live, eu espero que fique claro, eu espero conseguir explicar porque eu acho que muitos dos nossos problemas remontam à época da independência.

Se não por causa da própria independência, por causa de coisas que aconteceram no contexto da independência, coisas que estavam lá naquele período. Então eu, na verdade, vou fazer uma espécie de explanação histórica do período e da minha opinião sobre ele. Porque, por vezes, os fatos são conhecidos, mas a interpretação desses fatos que é o problema.

Muitas pessoas já falaram sobre a vinda da família real para o Brasil, as pessoas falam sobre o Bonifácio, falam sobre a questão religiosa, sei lá, se fala muito sobre esse período da história do Brasil agora, uma época que era menos conhecida e hoje se fala bastante. Mas não é porque as pessoas falam sobre o período ou mesmo porque elas falam coisas que aconteceram que a interpretação delas está de acordo com o contexto político da época e que a interpretação delas necessariamente comunica os efeitos históricos daquilo. Eu posso dizer para vocês que, sei lá, a declaração da independência dos Estados Unidos é de 1766, que a constituição americana é de 1789, mas se vocês lerem um livro, por exemplo, como o do Sidney Fisher, que chama A Verdadeira História da Independência Americana, da Revolução Americana, o livro tem uma interpretação de que foi um episódio terrível, que na verdade foi uma rebeldia, que foi uma coisa horrível.

E tem outros tantos autores que acham que foi um grande episódio da humanidade, que trouxe coisas boas. Então, a descrição dos eventos históricos não é o suficiente para nós termos uma interpretação deles. E mais ainda, eu acho que muito do fracasso do que a gente está vivendo hoje, dessas tentativas mais conservadoras, se dá pelo fato de nós olharmos o Brasil a partir de 1822.

Como se o Brasil tivesse começado em 1822. Que é uma coisa que eu pretendo que a gente largue essa história. Ah, o Brasil começou em 1822.

Teve gente que falou: “julgamentos de valor sobre eventos históricos são irrelevantes”. E esse é o tipo da coisa que eu quero falar hoje. Eles não são irrelevantes. Eles são absolutamente relevantes.

E, basicamente, eles são muito relevantes, por quê? Porque, em primeiro lugar, nós olhamos a história, em grande parte, para dizer o que é valioso do que as pessoas do passado fizeram para nós e o que não é. Se o exemplo deles é bom para nós e se não é. Claro que a análise dos fatos tem que ser imparcial. Mas a interpretação deles é bastante relevante e o juízo de valor em cima deles é bastante relevante. Porque vai impactar nossa vida diretamente.

Então, o pessoal está chegando, né? Já mandaram algumas pessoas. Essa minha posição contra a independência do Brasil, eu sei que é rara. Teve gente que mandou falando, ah, o Olavo falava a mesma coisa.

Algumas pessoas citaram outras pessoas que têm a mesma opinião. Olha, se vocês souberem de mais alguém que não acha o 7 de setembro foi um episódio positivo para a história do Brasil, por favor, não deixem de comentar. Eu não sei tudo o que todas as pessoas falam sobre isso, mas sei lá, eu passei, eu basicamente fui olhando as informações e falei, cara, a grande maioria das pessoas está comemorando o 7 de setembro como o grande marco e até para muitas pessoas como a fundação do Brasil, como se o Brasil tivesse, de fato, começado no 7 de setembro.

Então, realmente, sei lá, as pessoas estão colocando como um grande evento histórico, né? E de fato é um grande evento histórico. Mas eu não vejo desse modo, né? E aqui eu vou começar o nosso tema, o pessoal já entrou aí, várias pessoas, teve gente falando que o Ítalo também postou contra a independência, ou seja, estão aparecendo pessoas que falaram a mesma coisa, mas eu vou deixar claro qual é o meu argumento sobre isso. Então, vamos lá.

A primeira coisa para se entender sobre esse período de 1822 é o contexto no qual ele está inserido, e o contexto mais imediato é a vinda da família real para o Brasil. Então, na Europa estão acontecendo as guerras napoleônicas, acontece a Revolução Francesa, a Revolução Francesa é um grande chacina, muitas pessoas morrem, e finalmente as ideias, qual que é a grande moda intelectual na Europa na época? O liberalismo, as ideias iluministas. E é muito consagrada a ideia de que existe o iluminismo francês, que foi muito radical, e o iluminismo britânico é TDB, ele era maravilhoso e tudo era bom nele.

Isso não é completamente verdadeiro, e isso não é completamente verdadeiro para ninguém da época, por quê? O iluminismo britânico foi, em grande parte, a origem do iluminismo francês. Isso é muito sabido pelos próprios iluministas franceses. Montesquieu é um anglófilo.

Voltaire começou a carreira dele escrevendo um livro sobre as ideias políticas britânicas. A ideia de uma monarquia constitucional na Inglaterra, que foi a ideia que inclusive moveu Luís XVI, que foi o rei que foi morto pela Revolução, em parte dar espaço para os Estados Gerais, eram as ideias do iluminismo, em grande parte, de influência britânica. Tanto que, se vocês lerem livros consagrados sobre esse período, por exemplo, Um Conto de Duas Cidades, que é um dos livros mais lidos da história, esse Um Conto de Duas Cidades vai colocar como parte do problema do caos revolucionário francês exatamente as ideias que circulavam na Inglaterra.

E as ideias não de qualquer grupo que circulava na Inglaterra, mas as ideias, em especial, da esquerda britânica. E a esquerda britânica tem uma ideologia oficial do partido Whig, que é o liberalismo. Esse liberalismo, os ingleses têm até um nome para a ideia de que a história só evolui, que chamam de Whig History.

Whig é o nome do partido liberal na Inglaterra, que foi o primeiro partido de esquerda organizado. E a ideia desse partido é que a história é uma grande evolução, sempre na direção de mais liberdades, sempre na direção de mais direitos. Esse iluminismo britânico vai, obviamente, ter uma versão mais radical na França, inspirada por Rousseau, inspirada pelo próprio Voltaire, por outras pessoas.

E essa versão mais radical vai espalhar. E depois que a Revolução Francesa gera o caos, porque tem gente que fala que a Revolução Francesa é um marco da humanidade, mas, na verdade, ela é um dos maiores episódios, um dos piores episódios da história da humanidade. É morte atrás de morte.

A morte de várias pessoas. Lavoisier, que foi um dos maiores cientistas da época, foi morto pela Revolução. E aí, quando tudo vira um caos, Napoleão tenta fazer uma mistura, certo? Ele tenta misturar parte do que era conciliar a direita com a esquerda na França, o que era impossível.

Então ele tenta fazer uma espécie de monarquia com os valores da Revolução. A bandeira francesa é um símbolo disso, porque a bandeira de Paris era o vermelho e o azul. E aí Napoleão insere o branco, que é a cor de Joan of Arc, que era a cor da monarquia.

Então a bandeira francesa vira uma mistura da bandeira da Revolução, que é o vermelho e o azul, que aliás, esse mesmo vermelho da Revolução vira sinônimo do movimento revolucionário global, vai depois ser usado no marxismo, na bandeira da Itália, em várias bandeiras se adotou o vermelho como a cor da esquerda. E na Europa, tradicionalmente, o branco era a cor da direita. Inclusive Portugal tinha uma bandeira branca.

A bandeira original de Portugal é branca. E aí Napoleão adota esse modelo e começa a desestabilizar todos os países europeus. Quando ele estabiliza eles, isso favorece muito as oligarquias das Américas, a começarem a ser influenciadas em grande parte pela maçonaria, a começarem a fazer independências, a começarem a querer, na verdade, eles mandarem no país, independente da coroa espanhola, e no caso, vai acontecer isso em parte, independente da coroa portuguesa também.

No caso de Portugal é diferente, porque o rei faz uma retirada, o rei quer continuar aliado da Inglaterra, porque aí vem a ironia das coisas. A Inglaterra, que fomentou tanto esse liberalismo, isso aliás é uma constante na história britânica, a Inglaterra que fomentou essas ideias, agora se vê como inimiga do Napoleão e tendo que lutar contra essa mistura do Napoleão, essa monarquia revolucionária, sei lá o que, do Napoleão. E aí, Portugal é um aliado muito antigo da Inglaterra, é um aliado bastante tradicional da Inglaterra, e Portugal decide então, porque Portugal não tem como entrar em um conflito direto contra Napoleão, não faz o menor sentido, não existe a menor condição de Portugal ganhar um conflito direto.

Mas Portugal valoriza o Brasil muito, tanto que os portugueses, tradicionalmente, não viam o Brasil como colônia. Se vocês pegarem vários livros de autores tradicionais portugueses, eles não falam que o Brasil é uma colônia, eles falam que o Brasil é um território ultramarino. É completamente diferente falar que o Brasil é uma colônia e falar que o Brasil é um território ultramarino.

Isso para vários autores é assim. E aí Portugal vê, o que mostra a valorização do Brasil de uma maneira incrível, a ideia do rei vir para o Brasil, do rei governar o seu reino a partir do Brasil. Até o ponto em que há uma estrutura jurídica para corroborar isso, que é a união do Reino Unido, a ideia de que o Brasil é parte de um Reino Unido.

O Brasil tem um status igual ao de Portugal, não em precedência histórica, mas igual no sentido de ser uma parte desse Reino Unido, que é o Reino Unido de Brasil, Portugal e Algarve. Algarve é o sul de Portugal, mas que é uma parte que vai reconquistado, porque também o Brasil era visto como parte da reconquista, como extensão das cruzadas. O Brasil foi fundado por essa ordem militar religiosa, que é a Ordem de Cristo, que eram basicamente os cavaleiros templários que foram absorvidos em Portugal e que fizeram o Brasil.

O Brasil chega aqui, Pedro Álvares Cabral, com a Cruz da Ordem de Cristo, que é o símbolo… O Brasil tem dois símbolos mais tradicionais, que é a Cruz da Ordem de Cristo e a Esfera Armilar, que é um instrumento de navegação que era o símbolo de Dom Manuel, que foi o primeiro rei do Brasil. Então aqui já começa a minha primeira birra com esse 7 de setembro. O primeiro rei do Brasil é Dom Manuel, o primeiro rei do Brasil não é Dom Pedro I. O Brasil começou em 1500.

O Brasil não começou em 1822. São José de Anchieta é o apóstolo do Brasil. Mendes Sá é o herói do Brasil.

Estácio de Sá é o herói do Brasil. A minha família estava aqui 300 anos antes desse 1822. É ridículo começar a achar que o Brasil começou a partir de 1822.

E quando tem esse retirado e o Brasil está nesse Reino Unido, Brasil, Portugal e Algarve, se havia uma dúvida de se o Brasil era colônia ou não, agora não deveria haver essa dúvida. Ela não deveria existir porque oficialmente o Brasil não é. Inclusive o Brasil é um incrível caso de uma, entre aspas, colônia que governa um império transcontinental que envolve, imagina, o império português, ele envolve um pedaço da China, ele envolve um pedaço da Índia, ele envolve uma parte razoável do litoral africano, ele é um império de uma história incrível. E aí o Brasil, ele basicamente agora tem esse status único.

E aí vem a grande praga, porque a grande praga nessa história, quem é o grande vilão da história? Para mim, o grande vilão são exatamente as Ideias Luminísticas, que estão querendo destruir a monarquia portuguesa, que estão querendo destruir o Brasil. O Pombal, que foi um dos grandes culpados por toda essa confusão, foi inclusive o cara que implantou essa burocracia toda no Brasil, essa história de ter que… Cartório, por exemplo, um drag que só existe no Brasil. E isso em grande parte por conta do Pombal.

O Pombal fez duas coisas, ele perseguiu os jesuítas, que eram os educadores do Brasil, e ele, por outro lado, além de perseguir os jesuítas, cria toda essa estrutura, esse aparato de controle estatal para deixar o Brasil mais científico e moderno. O que é um lixo. Isso, obviamente, ele vai entregando o poder no Brasil para a maçonaria.

A monarquia é a grande força contra isso, porque Dona Maria, que é Maria a Piedosa, e que depois, por conta dessa mesma galera, eles inventam de falar que é Maria a Louca, porque ela entrou em depressão, vendo o quê? Vendo o horror que foi feito contra a família dela e contra todas as pessoas que ela amava nessa Europa Revolucionária. Nessa Europa na qual essas ideias liberais estavam matando as melhores pessoas que tinha na Europa. Então, Dona Maria, um dos grandes fatores que deixou ela mal foi exatamente o V.E.S., por exemplo, a execução dos Távoras, que era uma família importante lá para Portugal, uma família tradicional, e ela vê isso, ela é muito católica, ela fica bastante impactada por isso.

E agora vem os nossos protagonistas da história, que são tratados, por vezes, em algumas narrativas, como heróis de maneira ufânica. Ah, meu Deus, ufanista total. É o D. Pedro I, o grande herói da pátria, o grande pai da pátria.

Veja, D. Pedro I, na verdade, com as suas virtudes, que ele teve, sem dúvida, e sem dúvida eu sou um defensor da monarquia, mas D. Pedro I foi uma das grandes pessoas que desestabilizaram a monarquia brasileira e a monarquia portuguesa. Inclusive na Guerra Civil. Não é um ato heróico a Guerra Civil que D. Pedro I fez em Portugal.

Lá ele é chamado de Pedro IV. Na verdade, a Guerra Civil que D. Pedro I fez em Portugal desestabilizou a monarquia portuguesa para sempre. A monarquia portuguesa nunca mais conseguiu ser estável e sustentar a partir de Pedro I. E por que ele fez isso? Ele fez isso porque ele está em um grande debate, ele está inserindo uma grande confusão, e dessa grande confusão, os grandes protagonistas são as ideias liberais, são as ideias iluministas.

Ele é casado com uma mulher incrível, que é a Imperatriz Leopoldina, que é da família Habsburgo, que é a família mais católica de todas, e que dá pra nós esse símbolo incrível, por isso que eu aprecio que as pessoas usem, que é a cor amarela. O amarelo é o símbolo dos Habsburgos e é o símbolo do Brasil. Eu acho lindo isso.

Porque o amarelo faz referência ao Sacro Império Romano Germânico, uma das cores… A família Habsburgo é a família mais católica, mais tradicional e mais importante das monarquias europeias na Era Moderna. E ela nos deu a nossa cor. O verde, que é a outra cor que nos complementa, é da Casa de Bragança, que é a própria casa de Pedro I, que é a casa da monarquia portuguesa.

Então nós temos o verde e o amarelo como símbolos incríveis do Brasil, os quais eu aprecio muito que tenham sido adotados. A isso, na verdadeira bandeira brasileira, se complementou a esfera armilar, que é o símbolo de Dom Manuel, e a Cruz da Ordem de Cristo, símbolos originais do Brasil. Esse é a bandeira do Brasil.

Inventar… Se não, a bandeira do Brasil vai ter que ser a bandeira do Reino Unido, Portugal e Algarve. Agora, inventar que foi a mata, o ouro… Isso é ridículo. Isso é uma versão patética.

Quando eu ouvi na escola, o amarelo é a mata, é o ouro, o verde é a mata, pelo amor de Deus. Isso é… Tem que ser muito ignorante pra passar uma versão dessa. Com todo o respeito às pessoas que façam, é muita ignorância.

Só que Dom Pedro I, ele tem quase como se fosse um demônio bom e um demônio mal, certo? Do lado dele. O demônio bom, desculpa, um anjo bom e um demônio mal, do lado dele. Demônio bom não pode ter, né? Mas, embora ambos… O demônio, obviamente, é um anjo também.

Então, um anjo bom e um anjo mal, portanto, um demônio e um anjo. Esse anjo bom é a influência católica e a influência tradicional da família, da coroa portuguesa. E o lado mal é basicamente essa influência liberal toda, a qual ele lê, a qual ele é influenciado por ela.

E aí acontece esse episódio que foi o grande culpado pela… por essa independência, por essa palhaçada de independência. Aliás, é muito nova… O grande culpado foram as revoluções, as cortes. O que são as cortes? Quando o rei vem pra cá, os maçons liberais e outros esquerdistas da época, eles acham por bem tomar o poder em Portugal.

E dá um golpe, e nesse golpe estabeleceu uma constituição basicamente de esquerda pra Portugal ser governado pela esquerda e começar a entrar na mesma moda e na mesma desestabilização que está acontecendo no mundo inteiro. Portugal seguindo, portanto, destruindo a igreja, destruindo a educação, destruindo tudo que tinha de interessante em Portugal e estabelecendo essa palhaçada. E isso é levado pra algumas pessoas como… Ah, é um desejo do povo português de ter liberdade.

Meu, que mentira, que bala… Olha, quem fala isso é de uma ignorância, assim, impressionante também, porque você chega assim… Que povo português? É uma pequena elite, uma burguesia de segunda categoria que faz a Revolução das Cortes, que quer basicamente mandar no país, que quer criar um regime corrupto e que quer usar essa porcaria dessa fórmula liberal iluminista que está circulando pra se legitimar, pra poder sugar o Estado português. Ah, não, mas é que agora vai ter uma Constituição e antes era absolutista. Mas a Constituição é pra quê? A Constituição é pra dar poder pros caras e pra eles usarem o poder.

Então isso não é… Ah, as liberdades foram salvas? Não foram salvas nada. Na verdade, isso é um golpe e esse é um golpe cuja única solução, como foi dito pra João VI, como foi dito pra Pedro I, Pedro IV, que viria a ser Pedro IV, que ainda não era, é a supressão, inclusive um dos britânicos chegou a sugerir isso, a supressão dessa porcaria, dessa revolta. Esses caras tinham que ser presos, porque eles deram um golpe, então eles têm que ser presos.

E a questão do golpe deles é que eles não só deram um golpe, como eles estão dando um golpe contra o que tem de melhor na época, contra o que tem de melhor, contra os melhores valores que fundaram Portugal e Brasil. Não se deveria ter cedido a eles em nenhum nível, e quando o rei cede a eles, o rei deveria, Dom João VI, no caso, deveria trabalhar pra suprimir. Dom João VI tenta achar uma solução.

Aí começa o problema deles, que tanto o Bonifácio quanto o João VI, o que eles começam a fazer são soluções parciais pra evitar o conflito. Enfim, esse é o problema. As pessoas reclamam, falam assim, essa discussão é um pouco ridícula, às vezes porque elas falam, ah, porque a independência dos Estados Unidos é melhor que a do Brasil, porque a dos Estados Unidos foi violenta, e a do Brasil não foi.

Isso torna os Estados Unidos melhores. Meu Deus, cara, é o contrário, é o contrário, meu Deus do céu. É o fato de o Brasil tinha que ter sido o guerreiro contra os revolucionários, não contra não contra, sei lá, ele mesmo, não faz sentido.

Por que o Brasil tinha que lutar contra ele mesmo? Porque Brasil e Portugal é a união que fez esse país, é a união que criou esse país, é o que deu toda a nossa cultura, é o que deu toda a nossa tradição. Então, não tinha que ter violência contra Portugal, tinha que ter violência contra os inimigos de Portugal, que são os caras que queriam transformar o Brasil numa colônia de novo e queriam, na verdade, destruir a monarquia portuguesa, que eles conseguem. Então, na verdade, quando o rei quando o rei ele cede a isso, ele está cedendo para a sua própria destruição.

O rei de Portugal, ao ceder as cortes, está cedendo a sua própria destruição, a destruição da monarquia portuguesa. É isso que acontece com o D. João VI. E aí, o D. João VI vai para lá e aí ele tenta achar uma solução intermediária, que a solução intermediária não é tão ruim, que seria, ah, não, então vamos colocar Pedro I como o rei do Brasil.

Ou vai ser o príncipe regente, ele vai estar lá, porque daí o garanto é a monarquia lá. Mas vocês vejam que já começou errado, porque é uma solução de um negócio que você já está legitimando, certo? Porque a partir do momento que você chegou lá e falou, agora eu sou um monarca constitucional e agora, meu filho, é o regente, eu vou proteger e tal. E aí ele fala, não, vou perder o trono para o meu filho.

Não, você está dando espaço para uma galera que quer o seu sangue. Essa é a realidade. Aí, vocês pensariam que depois disso, D. Pedro I poderia efetivamente mudar o Overton, mudar a janela da opinião e, de fato, proteger a monarquia, restaurar a monarquia.

Não, não, não. A discussão na cabeça de D. Pedro I é se ele cede mais ainda a essas cortes portuguesas, esses liberais portugueses e vai para Portugal e submete a eles e acaba com o Brasil. Essa é a discussão na cabeça dele que é um absurdo.

É laudado o Bonifácio e o Leopoldino, são laudados como heróis por terem convencido dele a ficar, mas é que o debate ele já enveredou tanto para a esquerda que ele já é meio que… A posição do Bonifácio, que é a posição da independência, ela já é a direita da esquerda. Aliás, o Bonifácio tem muito esse perfil. O Bonifácio tem muito o perfil de direita da esquerda.

Ele parece muito com o partido conservador brasileiro, que é a direita da esquerda, que é a partir do momento que você desfez as coisas tradicionais, agora você cria uma direita dessa nova revolução. E o Bonifácio tem ainda esse perfil e é claro que o Bonifácio está certo no debate. O Bonifácio que é maçom e o Bonifácio que… É claro que o Bonifácio é a direita e a esquerda, não tem nenhum outro modo de definir.

Eu acho triste que a empresaria Leopoldina acaba se vendo obrigada a ir junto nisso, porque eles basicamente falam assim, olha, o Pedro, se você ceder para esses caras, você vai ter que voltar, vai ser um lixo, vai ser um lixo, vai ser uma porcaria, você vai acabar com o Brasil, você vai acabar com a monarquia. Alguém falou Bonifácio é como o Burke, perfeita analogia. O Bonifácio, na minha cabeça, ele é muito semelhante ao Edmund Burke, muito parecido.

Ele é bem o mesmo estilo. E eu acho ambos os estilos errados para o que era necessário na época. Justamente que eles deram em todo o problema que a gente está vendo hoje.

Se não tivesse dado, a história do Brasil é outra, a história do Brasil é alternativa. Pedro I, então, fica e ele estabelece esse reinado basicamente esse reinado brasileiro. A partir do momento que isso foi feito, nós temos que olhar o seguinte, deu certo a monarquia brasileira ou a monarquia portuguesa? Eu sou obrigado a dizer que não, nenhuma das duas deu certo.

A monarquia, eu sei que agora é uma posição que muita gente pode ficar brava, mas é verdade. A monarquia brasileira, ela não deu certo, ela é um fracasso completo. E eles derrubaram a única pessoa que tinha condição de fazê-la dar certo, que era a nossa queridíssima Isabel.

A nossa queridíssima Isabel. A princesa Isabel, que seria a imperatriz Isabel, era a única pessoa capaz de fazer funcionar a monarquia brasileira. Ela foi derrubada e a monarquia portuguesa virou um lixo, porque é isso que não se conta no Brasil.

O que acontece? Pedro depois volta pra Portugal e ele começa uma guerra contra o seu irmão. Quem é o seu irmão? O seu irmão, na verdade, é um direitista que tá querendo fazer com que Portugal siga o caminho da igreja católica e da tradição antiga portuguesa aos mesmos modos que os carlinhos estão fazendo. Essa é a realidade independente de quem é o herdeiro legítimo, quem tem não sei o que, independente de tudo isso, o fato é o defensor militar da esquerda é Pedro IV, Pedro I do Brasil.

O defensor militar da direita é Miguel, que é o irmão dele. E quem ganha é Pedro. Pedro ganha a guerra do seu irmão.

Pedro ganha a guerra do seu irmão apoiado por todas as potências liberais internacionais, o que deveria levantar uma sobrancelha. Porque por que as potências internacionais liberais querem tanto a vitória de Dom Pedro nessa guerra? Porque elas não querem o perigo de Portugal ser uma inimiga delas dessas nossas reformas em direção ao chamado progresso. Aí tem gente que vai ficar chocada.

Claro, a monarquia brasileira fracassou. Eu vou deixar bem claro porque eu acho isso. E aí, quando tem essa vitória dessa monarquia liberal de Pedro, que a família dele vai continuar, vai seguir, a fase imediatamente posterior à guerra civil portuguesa, que não é gloriosa, que o resultado foi péssimo, é trágico, é trágico que Pedro tenha entrado nessa, é trágico que Pedro tenha se unido a essa mulher que é a Marquesa de Santos, que ele fez Marquesa de Santos, que era amante dele, que era outra liberal, e aí ele está envolvido desses maçons, desses liberais, isso é trágico.

Nesse sentido, apesar de eu achar o Bonifácio um maçom e que está bastante à esquerda para o que eu entenderia do que era o caminho do Brasil, Bonifácio, sem dúvida, é o lado correto em relação a essa Marquesa de Santos e em relação a essa história. A monarquia portuguesa, essa monarquia liberal, os portugueses chamam ela de devorismo na fase imediata, porque você tem uma elite liberal roubando todas as coisas em Portugal e usurpando todas as coisas, e daí vira Portugal, a monarquia portuguesa vira um caos completo. Esse período do devorismo ele é dividido novamente em dois partidos, a direita da esquerda e a esquerda.

A direita e a esquerda, eles são chamados dos cartistas, que são os que defendem essa nova constituição liberal portuguesa. E a esquerda da esquerda são os setembristas, que são os outros que vão desestabilizar mais ainda a monarquia portuguesa. Mas a partir daí, a monarquia portuguesa nunca mais conseguiu se livrar dessa elite liberal que foi sugando ela até ela desabar, até ela acabar e até que, na época de Fátima, por exemplo, tinha um regime semi-socialista em Portugal no começo do século XX.

Então, a monarquia portuguesa nunca mais funcionou depois da guerra civil britânica, ela foi um caos. E por que eu falo que a monarquia brasileira fracassou? Não por nada, porque ela só teve um rei. Então, por melhor que… por mais que tenha tido grandes méritos Dom Pedro II, ela literalmente só teve um rei.

Um dos arquitetos dela, que foi Bonifácio, foi expulso, não foi o tutor de Dom Pedro II até o final, foi trocado por um outro, por um padre maçom, que era o Regente Feijó, que era um caos completo, que era péssimo. E aí, quando Dom Pedro II governa, o Brasil tem realmente grandes eventos, ele tem momentos que parece que o Brasil vai realmente afirmar o seu caráter, que o Brasil vai realmente se fortalecer. Que é, evidentemente, a gente vai ter um período aí com a guerra do Paraguai, a vitória sobre a Farroupilha e nós temos a Batalha de Guararapes, que são os grandes episódios assim do Brasil.

A Farroupilha, que é uma revolução de esquerda novamente feita por pessoas da pior espécie. Garibaldi, por exemplo, é um dos maiores líderes da esquerda mundial. Garibaldi bombardeou o Vaticano, para desfazer o Conselho Vaticano primeiro.

Ele foi um das pessoas que colocou no poder as piores pessoas. Ele era o cara mais à esquerda da unificação da Itália, colocou no poder as piores pessoas na Itália. E ele vem fazer a mesma confusão no Brasil, só que diferente do Brasil, diferente da Itália, o Brasil ganha.

O Brasil, graças a essa figura heróica, verdadeiramente heróica, que é o Duque de Caxias, o Brasil, uma grande pessoa, o Duque de Caxias, uma pessoa incrível. O Brasil vence. O Brasil vence a Forroupilha, o Brasil vence esse outro pessoa de segunda categoria, que é Solano Lopes, que é outro revolucionário mequetréfico, que é o Napoleão das Américas, e o Brasil vence o Solano Lopes e o Brasil vence o Guararapes, que é uma luta, não é uma luta qualquer, mas é uma luta contra exatamente todas essas forças que estão desestabilizando a cultura europeia no nordeste do Brasil.

Então, quando os caras falam que Garibaldi é o Che do século XIX, mas isso não é isso é chocante, porque obviamente Garibaldi não é o Che Guevara, literalmente. Mas para as pessoas do século XIX, sem dúvida nenhuma, se vocês perguntarem para os italianos, conservadores, católicos do XIX o que eles acham de Garibaldi, a visão deles é que ele é um Che Guevara. Isso não tem a… não precisa ficar a ver polêmica sobre isso.

Então, o que acontece com com Dom Pedro II é que sim, tem muita coisa gloriosa no reinado dele, ele tem muitas coisas boas. Mas aí ele se perde porque na questão religiosa, ou seja, chegou uma hora que os padres do Brasil, os bispos, notoriamente Dom Vital, resolvem não casar os maçons com os católicos, porque é proibido. E o Brasil resolve seguir a Igreja Católica, sei lá, porque sim.

Do mesmo modo, o Brasil segue a Igreja Católica ao abolir a escravidão. Por que o Brasil segue a Igreja Católica ao abolir a escravidão? Bom, tem até uma carta do Leão XIII falando que aos bispos do Brasil, pela abolição da escravidão. Quem banca isso é a Princesa Isabel.

Então a Isabel e a união da Isabel com o Duque de Caxias mostra pra essa elite essa elite positivista do Brasil que uma monarquia verdadeira poderia dar certo.

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