Ou o Brasil para com as demolições ou as demolições apagam o Brasil.
No coração do antigo bairro Engenho Velho, hoje conhecido como Maracanã, uma mudança de nome de rua traz reflexões sobre a preservação da história e a gestão do espaço urbano.
A renomeação da rua Duque de Saxe para rua General Canabarro não foi apenas uma alteração superficial, mas um reflexo de decisões urbanísticas que resultaram em significativas perdas patrimoniais e culturais.
O Engenho Velho, marcado por suas antigas mansões e palacetes, era um testemunho vivo da história carioca. A rua Duque de Saxe, em particular, tinha uma rica história ligada à nobreza e à aristocracia brasileira. No entanto, essa história foi apagada de forma abrupta e controversa com a mudança de nome da rua, que homenageava a nobreza e um ilustre morador, para passar a homenagear um general líder da revolução farroupilha (a queridinha de positivistas e republicanos).
David José Martins, conhecido como David Canabarro e também chamado de General Canabarro (Taquari, 22 de agosto de 1796 — Santana do Livramento, 12 de abril de 1867) foi um militar brasileiro e um dos líderes da Revolução Farroupilha.
A rua Duque de Saxe, hoje General Canabarro teve outros nomes: inicialmente Rua D. Januária, passou a Rua Duque de Saxe (em virtude do paácio de Dona Leopoldina que ficava no local aonde hoje é o CEFET), Rua General Canabarro atual que é uma junção da Rua Almirante Baltasar mais Rua General Canabarro.
Segundo a página “Especial Rio Antigo” a rua antes se chamava DONA JANUÁRIA (rua de).
“O rio Joana, que corria paralelo ao rio Maracanã, foi retificado em 1811, depois das fabulosas chuvas do ano, formando-se nas suas proximidades o Parque Imperial, logo sacrificado para que o caminho se convertesse em rua, primeiramente denominada de rua Joana e posteriormente em rua do General Canabarro (caudilho farroupilha e general do exercito imperial).“
Chamava-se Dona Januária, em homenagem a irmã de D. Pedro II, casada com o Duque de Áquila. Em 1867 passou a chamar-se DUQUE DE SAXE (rua do), recebendo essa denominação em 1867 em homenagem ao esposo da princesa Leopoldina, irmã da princesa Isabel.
Além da mudança de nome, o processo incluiu a demolição do Palácio Duque de Saxe nos anos 1930, um dos ícones arquitetônicos da região. Em seu lugar, ergueu-se o que muitos consideram um edifício desprovido de charme e identidade, o Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ). Essa substituição não apenas eliminou um elemento significativo do patrimônio arquitetônico, mas também privou a comunidade de uma primorosa instalação escolar que poderia ter preservado e justificado a revitalização do antigo palacete.

A decisão de demolir o Paço Leopoldina em vez de preservá-lo e adaptá-lo para um novo uso é emblemática de uma mentalidade que valoriza o desenvolvimento urbano em detrimento da preservação histórica.
Em muitos casos, a falta de visão e de compromisso com a preservação do patrimônio resulta em perdas irreparáveis para a identidade cultural e o caráter único de uma cidade.
Além disso, a mudança de nome da rua é uma forma de reescrever a narrativa urbana, substituindo referências históricas por figuras menos relevantes ou até mesmo desconhecidas. Ainda: alinhados com a ideologia do momento. Esse processo de apagamento histórico não apenas obscurece a memória coletiva, mas também contribui para a perda de conexão entre os cidadãos e seu ambiente urbano.
Diante desses eventos, é importante questionar as decisões tomadas pelas autoridades responsáveis pelo planejamento urbano e pela preservação do patrimônio histórico. É fundamental que haja um diálogo aberto e inclusivo entre os diversos interessados, incluindo moradores locais, especialistas em patrimônio, urbanistas e autoridades governamentais, a fim de garantir que o desenvolvimento urbano seja conduzido de forma sustentável e respeitosa com a história e a identidade de uma comunidade.
Em última análise, a mudança de nome da rua Duque de Saxe para rua General Canabarro representa mais do que uma simples alteração no mapa urbano. É um lembrete doloroso das consequências de decisões tomadas sem considerar o valor do patrimônio histórico e cultural de uma cidade. É hora de aprender com esses erros e trabalhar para preservar e celebrar a riqueza da história urbana para as gerações futuras.