Duas portadas com os brasões da república indicando a data de 1873 já foram furtadas (lado da Avenida Presidente Vargas e da Rua Frei Caneca). Vários exemplares de postes raros da era Imperial, bem como modelos art deco também foram furtados ou depredados.
Visitar o campo de Santana (Praça da república, onde começou a quartelada de 1889) ou ‘Campo da Aclamação de Dom Pedro I’ no Rio de Janeiro (como nós monarquistas chamamos) gera um misto de sensações, mas preponderantemente ruins.
Primeiramente pela tristeza ao constatar o potencial enorme do local que é desperdiçado pelo governo, frustrando a sociedade no decorrer do processo pela insegurança e precariedade do outrora lindo parque. Vimos vários indigentes dentro do parque (que não tinham motivo algum para estar por ali, senão utilizar o local como banheiro ou dormitório e, de quebra, realizar ou fazer vista grossa para os furtos de pessoas e de equipamentos decorativos que ocorrem). É fácil constatar que representam riscos de depredação, de segurança e para os animais no local, pois fomos advertidos para tomar cuidado com celular enquanto estivéssemos ali por um funcionário público do local.

Sem falar que parecem apenas esperar a noite cair para começar a quebrar as pontas lancetadas do gradil, das quais restam poucas, quebrar os postes, roubar fiação e destruir os itens que ainda permanecem ali, como o modelo de poste do século XIX da antiga Avenida Rio Branco, que resistem, embora sem as cúpulas, na maioria.
Doutro lado o poder público também “avacalha” as coisas, por exemplo: as gambiarras para instalação de holofotes por fora da carcaça dos postes.
Na face que dá para o Saara na Rua da Constituição, o lago drenado traz uma ideia de desolação, salvando apenas a presença de um pavão branco (lindo) vivendo pacificamente com gatos, patos, cisnes e esquilos e alguns trechos de sistema lacustre ornamental ainda funcionando, bem como as casinhas que ainda existem.
Como nos conta Marcia Pimentel:
A praça hoje é da República, mas o fato é que foi um dos lugares onde a monarquia mais se fez popular entre seus súditos. Foi lá que uma multidão entusiasmada, embalada pelo repique dos sinos das igrejas, aclamou D. Pedro I como imperador do novo país. O local da aclamação não foi escolhido à toa, pois, desde as melhorias realizadas no final do século XVIII, havia se tornado cenário das festas mais populares da cidade, a começar pelas comemorações do Império do Divino Espírito Santo – promovidas pela Irmandade de Santana –, que, em algumas ocasiões, chegavam a durar três meses.

Foi no Campo de Santana que, em 1818, aconteceram as pomposas festividades de casamento de D. Pedro com D. Leopoldina e de aclamação de D. João como rei de Portugal, Brasil e Algarves. Para essa ocasião, foi construído um vistoso curro – estrutura onde ocorriam as touradas e as cavalhadas, a parte nobre dos festejos populares promovidos, tradicionalmente, pela realeza portuguesa. Em função disso, o Campo de Santana passou a ser chamado de Praça do Curro até 1822, quando foi desmontado e virou Campo da Aclamação.

Se lá a população comemorou a transformação do príncipe D. Pedro em primeiro imperador do novo país, foi no mesmo lugar que, em 1831, aconteceu uma rebelião contra ele, pouco antes de sua abdicação. E, em função disso, o nome do lugar foi mudado para Campo da Honra.
Em 1841, as comemorações populares de coroação de D. Pedro II foram marcadas para o Campo da Honra, que, por ordem do jovem imperador, voltou a se chamar da Aclamação. Segundo a arquiteta Rachel Sisson, o lugar, nessa época, já estava consolidado como um dos centros de poder do Brasil monárquico.
Trens e jardins
Com a chegada da família real ao Rio de Janeiro, a região havia ganhado novas benfeitorias, como o chafariz de abastecimento d’água e o aterro do Mangal de São Diogo, sobre o qual foi construído um novo caminho de acesso a São Cristóvão. Desde então, o Campo de Santana veio se transformando num ponto estratégico, de conexão entre a urbe e o Palácio da Quinta da Boa Vista.

Não foi à toa a escolha do lugar para abrigar a estação central da Estrada de Ferro D. Pedro II, inaugurada em 1858. A chamada Estação do Campo, atual Central do Brasil, foi erguida no lugar da Igreja de Santana (reconstruída na Rua das Flores, atual Rua de Santana).
Com o fim da Guerra do Paraguai, em 1870, grandes comemorações no Campo da Aclamação foram patrocinadas pela Coroa Brasileira. Nessa época, D. Pedro II havia indicado o paisagista francês Auguste Glaziou para a Diretoria de Parques e Jardins da Casa Imperial. Foi ele quem levou a cabo antigo projeto de embelezamento do Campo, construindo românticos jardins, cursos d’água, cascatas, pontes, grutas…


Ou seja, é este lugar que está deliberadamente largado, aparentando ter sido “tomado apenas para ser destruído”.
É triste ver que bastava instalar um carro da Guarda Municipal ou equipe em cada ponta do parque e colocar uma guarnição permanente em sistema de plantão 24 horas e câmeras para que nada disso acontecesse, mas falta vontade pública, decência, vergonha na cara, respeito pelo patrimônio histórico e respeito pela população pagadora de impostos, que precisa usar o serviços pelos quais paga.
Esperamos a requalificação plena do Campo, juntamente com a revitalização, para que esteja livre de população de rua e devidamente limpa, para que o povo possa se sentir seguro para frequentar o parque, não apenas como passagem, como tem sido experimentado na Quinta da Boa Vista. Ainda, que o projeto abranja a região do Campo de Santana, da Praça Tiradentes, da Frei Caneca e da Praça da Cruz Vermelha.